Um carta sobre gentileza



Não sei, me deu vontade de escrever com minhas próprias letras quase ilegíveis, num papel manchado de café e tinta, para um qualquer destinatário. Pessoa essa, que quando receber, irá ler, pensar sobre o que leu, e me procurar. Porque eu vou convidá-la para um café, caso ela goste de livros. Ou para um chope, caso ela goste de papo jogado fora. Podemos ir ao Museu do Olho, ao Largo da Ordem, ao Shopping Curitiba ou simplesmente ao fim de uma rua sem saída. Ela é quem escolhe.

Quero que esta carta chegue à mão de alguém sem a pretensão de receber uma carta, achando ser uma correspondência ou cobrança corriqueira. Quero que ela saiba que eu sou uma outra pessoa de algum lugar da cidade que resolveu escrever sem intencionar as palavras para alguém em especial. Eu não sei quem ela é, nem sua idade, nem seu hobby, nem sua classe ou sua rotina. A única certeza que tenho é que, assim como eu, ela precisa de alguém para conversar. Talvez, para desabafar. Alguém que a dê atenção, não apenas ouvidos. Eu sei.

A proposta da minha tomada de tempo para lhe escrever é só para nos conhecermos. Nada mais. Afinal, uma amizade pode ser fruto de uma carta desconhecida. Acredito que o motivo pelo qual lhe envio esta mensagem é a confiança. Melhor dizendo, o resgate dela. Pois, se a pessoa não conhece a mim e nem eu a ela, um encontro teria que ser à base da credibilidade. Sem más índoles, sem sentidos implícitos. Simplesmente um encontro de dois amigos. Porque, apesar de soar estranhamente equivocado, antiético e louco, isso tem relação com o reflexo da minha incidência. Quero dizer, se eu estou sendo honesta com esta carta, ela irá retribuir minha gentileza.

Falta isso no mundo: gentileza. Somos incapazes - ou ficamos - de acreditar nos outros. É difícil mesmo, também me incluo nessa lista de receios. Mas, uma vez na vida, sejamos mais dignos de humanização. Enfim, não vivemos todos num mesmo mundo, com as mesmas regras e vontade de quebrá-las? Temos traços em comum, a saber. Isso já renderia uma longa conversa. Com café, chope, ou qualquer outra bebida sobre a mesa. O meu destinatário foi endereçado à pessoa que esta lendo isso por alguma razão, mas que não deveria ignorá-la. Atrás, ela encontra o meu número. Espero ansiosamente pela sua resposta. Grata.


- Mari Sanches

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